Há quem diga que “santo de casa não faz milagre”, mas a maioria dos micro e pequenos empresários brasileiros acaba optando por trabalhar com a família.

É o que revela recente estudo realizado pelo Sebrae Nacional, mostrando que 68% dos pequenos negócios reúnem parentes nos papéis de sócios, empregados ou colaboradores. Mas trabalhar com pessoas tão próximas, onde o relacionamento vai além do ambiente da empresa, pode trazer vantagens e desvantagens.

Para que haja sucesso nessa relação, de acordo com Vítor Abreu, analista do Sebrae em Pernambuco, a orientação principal é entender o conceito de empresa familiar sem abrir mão, porém, das premissas de uma boa organização empresarial. “Entre os passos fundamentais a seguir, determine os papéis e obrigações de cada um, enumere as expectativas em relação ao negócio, defina a distribuição de lucros, pontue direitos e deveres, e realize avaliação constante de desempenho da equipe”, explica.

Segundo o analista, atuar com um familiar é bastante desafiador, pois envolve relações pessoais que vieram antes do negócio. “O principal risco é o da não correspondência de um dos envolvidos em relação ao desempenho. Neste caso, é preciso agir com profissionalismo, inclusive com possibilidade de desligamento da empresa.  Os erros e falhas não podem ser acobertados por serem de um familiar”, orienta.

Já entre as vantagens, que também são muitas e agradam à maioria dos pequenos empreendedores brasileiros, como foi mostrado na pesquisa inédita do Sebrae, a lealdade dos colaboradores é um dos pontos fortes. “Por serem da mesma família, os membros tendem a ter maior confiança uns nos outros. Isto facilita o relacionamento e o envolvimento no negócio, podendo resultar em um maior engajamento por parte dos membros”, avalia Vítor.

Sobre a sucessão familiar, deve ser observado se o sucessor terá realmente interesse em seguir com a empresa. “Em alguns casos, os sucessores ou membros da família não reúnem competência, conhecimento ou interesse para seguir com o negócio. Neste caso, recomenda-se que não façam parte da gestão necessariamente, mas possam atuar em um ‘Conselho’, que acompanhará a empresa de forma mais estratégica, sem intervir na gestão do dia a dia”, sugere o analista.

Quem optou por trabalhar com familiares foi o casal de empreendedores Danielle Leal e Rodrigo Gonçalves, sócios do Café Zoco, que funciona há um ano em Casa Caiada, Olinda. “Não restringimos que teria que ser alguém da família. Porém, sabíamos de pessoas próximas disponíveis e que já conhecíamos as características, o que acabou resultando na contratação de parentes”, lembra a empresária Danielle.

Atualmente atuam na Zoco a mãe, o pai e o irmão de Danielle, além da irmã e do primo de Rodrigo. A empresária conta que parte da equipe trabalha diariamente e outros dão suportes pontuais. “O mais legal é que todos torcem de verdade pelo sucesso do negócio, vestem a camisa, dão ideias e vão além das suas atividades”.

Os empresários Fernando Fernandes e Nathália Melo são outro casal parceiro nos negócios e na vida, sendo sócios do Instituto de Desenvolvimento Educacional (IDE), instituição com 10 anos de atuação e expertise em cursos de extensão e pós-graduação na área de saúde, com sede no Pina, Recife. Segundo a empresária, que comanda a Diretoria de Marketing da organização, a relação profissional e pessoal dos dois funcionou por estarem juntos desde o início do IDE.

“Na época, eu tinha 20 e Fernando 24 anos. Estávamos no começo e precisávamos trabalhar triplicado para compensar o menor investimento e a equipe reduzida, naquele tempo. Foram muitas noites viradas e, caso não estivéssemos trabalhando juntos, talvez até não entenderíamos a ‘ausência’ do outro”, recorda. Para ela, apesar dos desafios diários, trabalhar em família compensa por poder viver o mesmo sonho com alguém tão próximo.

Fonte: Revista PEGN